domingo, fevereiro 28, 2010

pois que minha fonte concede

água que transborda crua

e leve inteireza de

prestar plena às longas

vias que parto

um sorriso raro em cada

manhã

pois que as programo infantis

eu, mulher de cera

depois das velas esboçadas em

âmbar

não pereço às luzes, nem me

desfaço à sorte

sinto em nada a perda que

faísca

corro os dedos a deitar à sombra

pois que minha pressa

não tem tempo

como a pedra de gelo no oceano

calado como minha ânsia

de faz de conta terminando

a página de um caderno

que sempre terá um espaço em

branco.

28/02/2009

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

A Casa.

A Casa do corpo pediu socorro. Letra maiúscula porque ela é própria. Propriedade devida. Bastou de jejuar. Dei-lhe alimento. Dois pratos de macarrão com molho de tomate. Já era meia noite. Enquanto eu penso, ele existe. O Corpo. Às vezes ele sente. Vontade de correspondência. Queria mimá-lo como se ele fosse meu gato de estimação. Acariciá-lo a barriga, coçar-lhe o pescoço e dar leite todas as vezes que fizesse manha. Mas sua dependência o impede de ser meu gato de estimação. Nossa relação é quase sexual, ele na sua forma animada de mulher, curvilínea e quase sedutora, e eu, amorfa consciência inteligente, contraditória e quase determinada, vivemos um embate curioso em direção a uma simbiose que nos faça única. Seria um casamento ideal se não fôssemos quase. Eu desconfio do Corpo, e ele se desmantela na minha imprudência. Em verdade, somos dois inconseqüentes. Ele e eu. Mas Eu não admito. E muitas vezes, não o admito. Preguiçoso que é, segue os mesmos passos que eu planejo. Culpo-o de não ter a minha consciência? Seria mais fácil. Descontar nele o que não posso pelos dois. Ele executa o que mando, exceto as vontades próprias, as animalescas, das quais muitas vezes me convence antes mesmo que eu as atine. Por isso desconfio dele. Não é sedução, é cópula.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

entreato - e não era sequer uma luxúria de amor
cenário instrumental figurado ao final do take 7
sonhos insones
o susto em quando quase se acorda
delírio em cornucópia... divino e verossímil

domingo, fevereiro 14, 2010

quem emite o quê.

um hábito de se concentrar em sons. sua voz, dedos, água. parar de atuar como um grave, dar incidência a um fino ai... neste ritmo em que o sangue transborda, sentimos aquele músculo batendo em suas paredes todas as pressões intencionadas, resta uma gota baixa.

toca-se o chão, não a corda.

você ouve a que batida? o som continua adiante, nossos pés, nossos cotonetes... ninguém vai ouvir mais alto do que você. teria trazido o silêncio do surdo, mas a correnteza haveria de levar consigo qualquer incerteza, que se emudecia.

um ato sonoro perdia sua direção e meus sussurros atravessavam a janela. chegariam a afinar o atrito de outras gotas... mas não ouse a girar o botão. o problema nunca foi...

...O VOLUME.

14/12/2000

eu e o poeta

olhos pelas frases... que engraçado, achei que me olhava pelo espelho. que esperança... minha boca em seus versos ficaram como frases nos meus olhos... que perdida memória esta que haveria de não existir, a não ser pela boca alheia. a musa que não sou com a mesma nostalgia de querer inspirar bocas e línguas em nós presentes. que entusiasmo? aquele desejo não sai em cores pelas linhas; “diga-me, toca-me”, mas e as rimas? nossas silhuetas estão em suas mãos... desaparecem com a luz acesa. quem? eu e o poeta.

21/02/2001

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

era de peixes

com os dias vou aprendendo, se sou capaz de amar. pergunto-me se é possível tanto? e a resposta é maior, teria eu mais vidas ainda para relembrar os sentidos que me trouxeram até aqui. até peixes, por favor!

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

chá verde

hoje, ao final da tarde, estive eu desenhando os desconhecidos ao redor, sentado à mesa do bar preferido da rua augusta. e ela era uma ruiva só, sob os óculos escuros e os fones de ouvido submerso numa rua augusta que alguém jamais descreveria. espalhou-se pela mesa, nos objetos e nos hábitos de quem está de passagem ou à espera do que não vai chegar. acendeu um cigarro de filtro amarelo e pediu o telefone do sujeito da mesa vizinha... clarice foi quem atendeu... quer-lhe encontrar, mas ela não sabe se é clarice quem espera. se estivesse mesmo naquela esquina da augusta, ela encontraria qualquer um, mas a ruiva parecia imitar seus próprios gestos, sempre como num deja-vù de tudo o que é e fez. desenhei-lhe porque ela é imperfeita, porque se reveste de uma ânsia silenciosa e tinha sobre a mesa um guarda-chuva verde. ela foi uma cena de cinema que ela mesma provavelmente escreveria, quieta em preto e branco, revelando somente as cores do seu cabelo e do guarda-chuva.

13/03/08

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

monólogo sem plateia

devo desistir desse vício antes que me enterrem por sua causa. minha Diana não está à vontade com ele, não aquela Ártemis das florestas que circundam o meu rio. ela é solitária, mas quer acreditar que não é. ou então que se basta. que não precisa acender um cigarro para aquecer a alma. para se fazer companhia. não lhe basta sonhar com o muso da vida tocando suas folhagens, ela espera que os seus passos se entranhem naquela terra. que a eternidade transborde daquele rio. Ela.