domingo, julho 02, 2006

o sorriso da fotografia

não somos mais que poesia
clamando a frágil inocência
de sermos efêmeros e equidistantes do fim

esta noite não chove...

vejo um bule debruçado à janela do vizinho
na calma dos seus vapores, ele pensa na chuva que não cai e me oferece uma xícara de chá
agradecida sou, hei de evaporar um pouco desta noite para amanhã
assim o bule me conforta, me remete ao cheiro de terra molhada,
mas seca que estou reflito o céu estrelado e insone do inverno.

rio de janeiro, 30 de junho de 2006.

o que meus olhos veêm é o mundo em câmera lenta, imitando-se desfeito, insidioso,
às doses das dores, que se encarnam indóceis repentinamente nas mãos da paisagem anterior
e tudo que sucede é a invenção, é a suposição replicando ao cansaço a enfermidade do sono,
a hipnose da morte, é a surdez que tateia a própria voz
e parte do que procuro não é normal, nem se conjuga, porque desse mundo só faço abrir o regresso
nada de novo contenta-me a palavra, porque o mundo me devolve ao tempo em que parti
e dali em diante eu já sabia o que meus olhos veêm agora.