terça-feira, novembro 28, 2006

acerto da impossibilidade...

o grito calado sofre de amnésia constante
amanhã nem se lembrará porque existiu
é demasiado tarde quando as palavras são audíveis
o tempo regenera a cicatriz do lamento
porque o tempo arde ao som da intenção

à meia luz todos os corpos são iguais
e todas as manhãs com as horas se tornam tarde
as cores arrastam as sombras pelo chão
ontem parece hoje
tudo permanece igual e nada parece igual
e com um pouco de imaginação é parida a resposta para o desatino

é melhor ferir do que remediar
é melhor chorar do que premeditar

só me preocupa aquele silêncio de pedra
porquanto ela se quebra e sangra qualquer coisa que não seja minha
lateja por outros dizeres

já não os sinto, não os lembro mais...

terça-feira, novembro 21, 2006

sobre a sonoridade do tempo

o meu amor vermelho tem mãos que me tocam com fúria. eu sou a guitarra por ele enamorada, vibrada pelas cordas por ele desafinadas, e nunca adivinho o seu andamento desarmônico. por seu capricho lhe sou o instrumento catártico e passivamente incido com o meu desencontro amoroso. às vezes me emudeço encostada à parede, às vezes me ensurdece suas mãos. o meu amor vermelho é uma decomposição inadiável. dias áridos são estes de uma guitarra desconsertada.

quinta-feira, novembro 02, 2006

composição da pressa

conto nos dedos as eternidades que se demoram
pelas manhãs em que não verso com o teu domínio
sobre os meus sonhos, as minhas agudas poesias
mas silenciosas
porque
grito sob as paredes do meu corpo
o meu torpor imaculado
a sangria, a ventania de uma voz
sólida, acesa e mascarada
a tatuagem em branco
na pele que se resseca esperando
a chuva da tua calma
e a abundancia do teu zelo pela minha.