terça-feira, agosto 14, 2007

cinemascope brilhante IX

creio que a madrugada faça isso conosco... um devorar de horas distraídas... eu, implícita na penumbra dessas horas, cumpro a minha permanência inevitável entre a absorta respiração e o gozo invisível, a tudo me atenho um pouco e nada me faz juízo. quiçá descubro lá fora uma nuvem púrpura que me encante mais do que esconda estrelas, que me desenhe ao acaso numa doçura de seda ou numa chuva lírica - daquelas em que se deita para sonhar como o mar. eu não tenho pressa em amanhecer, a pressa é oriunda da manhã, dourada e infantil - eu nasci da tarde, ansiosa pelo poente e batizada sob a lua crescente... creia-me, a madrugada faz isso conosco, um pincelar de olhos desajustados a vagar ao infinito, e talvez nos percamos se olharmos o corpo na cama, deitado, quase falecido; se pecarmos pelo pavor, mas o ofício da dúvida é estar sempre em composição e o “se” lhe ser híbrido de “tanto faz”. pouco importa o que há depois das horas, se há sede ou sorte, ou a morte de uma pequena existência, pois os dedos da noite me penteiam as vontades, e sinto-me toda um esvoaçar de gigantes cegos a mirar pretensos acenos apaixonados de seus olhos vagos e translúcidos. tais quais, por ora, são essas sensações de faz-de-conta, feito um beijo de psiquê na escuridão... se somos eros, não sei, mas a luz não há de ser acesa antes que se amanheça. porque a madrugada sempre fez isso conosco... um demorar de horas distraídas.

sexta-feira, agosto 03, 2007

cinemascope brilhante X

o meu agosto é um cinema
é uma ladeira, uma madrugada
parada, atravessando uma cardinale
com a flor presa à orelha

um plongé de paralelepípedo
uma subliminar de estrela