quarta-feira, junho 10, 2015

Sorriso aberto de lua em seu leito

Preciso de um solvente.
Alguma coisa que dissolva o meio antes
do início e daí pra frente.
Algo que valha a alma.
O trem que não se pega,
adentra o peito.
Entre uma esquina e
de manhã cedo.
O mundo era maior e
mais perto.
Sorriso aberto
de lua em seu leito.
Flamboyants se espalmam
por onde passo e penso.
Não me tenho quieto.
Me adenso.

(Daya Gibeli / Augusto Feres)
22/10/2013 

segunda-feira, abril 27, 2015

como é que é ter super poderes?

cabeça dinamite cabeça dinamite cabeça
cabeça dinamite cabeça dinamite cabeça
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cabeça dinamite cabeça dinamite cabeça
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quarta-feira, abril 08, 2015

Ginoliterata

Ginoliterata from Daya Gibeli on Vimeo.

Vídeo-instalação cenográfico.

Ginoliterata. Aos desavisados fingia-se de mendiga. Andava por ruas e ruas falando e rindo. Falava e ria sozinha para iludir indiferença alheia. Nos grandes mercados dos capitalistas é difícil carregar um bem precioso sem ser notada. Era algo reluzente, poderia ser vendido, mas nunca comprado. O paradoxo. A mulher quase cigana de traços marítimos - deusa do submundo. O revoar das horas e os mercadores começavam a recolher suas tralhas. Somente ela, aos poucos, dava peso e matéria, cobrindo o chão com seus frutos. Cantava. Olhares eram descobertos em diferentes pontos. Fixos, fugidios, encabulados. O suculento mistério da mulher. Ela amorosamente descalça, retalhada, com leveza ofertava-lhes suas mercadorias que poderiam ser vendidas, mas nunca compradas. O paradoxo. Mantinha-se ali, debruçada sobre si mesma. Esquecida em clareira aberta para o mundo. Em Ritual flutuando feito um ectoplasma. Batendo tênue o corpo de papel. O frenesi da surpresa e seu sabor. O assombro de todos ao ver surgir o bem mais precioso... Ainda curvada, esconde  um dos braços nas pétalas da grande saia, os dedos em pinça, no fundo, além da brilhante beleza de escuras rodeada de mucosa palpitante, retira embebida, a palavra.  

Texto: Madame Tormenta Furtacor/Thatiana Verthein

quarta-feira, julho 30, 2014

o ('cio) que temos para ontem.?

quarta-feira, novembro 20, 2013

minha passionaria: bis-coitos da sorte, carolinas de doce de leito, salada de bruxa, sonhos de quatro beijos.. pede, moleque, baba de moça..

terça-feira, outubro 29, 2013

E no início era a música, nunca o verbo.

quarta-feira, outubro 09, 2013

AVE ARCANAS @chacomcamofas

AVE ARCANAS @chacomcamofas from floratomo on Vimeo.

da louca ao mundo, a mulher é movimento no infinito fecundo

domingo, outubro 06, 2013

i(a)ncest(r)o

Beralda Valentina e Máximo Salvador teriam sido meus avós, filhos de pais divorciados e netos de curupiras estrangeiros, seriam esses seus nomes se eu tivesse filhos, teriam fundado uma cidade de começo, meio e fim, e ao partirem levariam consigo o nome e as histórias para contar, de perder a cabeça e pernoitar ao jantar, do tempo levariam um pedaço atento, 
arte se come com veneno
que não mata, é sustento

quinta-feira, outubro 03, 2013

quarta-feira, outubro 02, 2013

il faut se taire

c'est la moitié de mon coeur, quero te dizer coisas sem nexo, the weather is fine, essa canção foi feita por mim, como se diz eu te amo em português? e sim, sou um simulacro imperscrutável, cruzo a rua pra não te tocar, quantos vãos ainda posso permitir? até que me canse, indefesa, e arraste os tantos vãos para alguém. mas esse alguém, já em vão, não me dá vontade de dizer as coisas de poesia que ninguém presta atenção, como você. nem tem esses olhos verdes que veem passando tudo de mim como um gesto de trem, na velocidade de como fugimos das bombas, correndo para o alcance de onde nada mais te ameace. mas mesmo assim, quero te contar coisas ao avesso, de como não sou, de como eu não como. como um gomo de laranja que você chupa não me faz cócegas quando respinga. como a minha libido não se atenta às árvores pela rua. como me declaro para alguém porque não sei o que dizer da metade do coração que se foi no trem, o estribilho que me separa quando amo ninguém. e confundo a porra toda! deixo a porta aberta pra me contradizer enquanto espero. porque digo muito, e sinto muito por ser essa nebulosa. nem o cigarro acerta a minha boca, mesmo que a minha boca acerte a palavra cigarro. il faut se taire, porquanto o labirinto se meça com a linha, milha por milha e não perco a hora. e a razão, que os remédios são caros e o estado não paga a minha sessão.. de descarrego, de desapropriação. me apego ao lápis que escrevo, ao laço que amarra meu cabelo. me apego, inclusive, ao que não é, ao peixinho de ouro que desinventei, ao útero no qual não nadei.  a minha ideia de você me faz pensar isso, um desenho de nuvem que se evapora e a impressão teima em parir um elefante, o mesmo faz a angústia de não te conjugar. e quando tudo é potência de desencontro, pronto! tô eu pegando o 47 pra ir e voltar. bullshit!! eu não faço mais que me enganar. NADA me convence. NADA faz mais sentido.

quinta-feira, agosto 08, 2013

esfingindo

esfingindo from floratomo on Vimeo.

teso o corpo afiado
tece em sangue a réplica
do falar sobre o inevitável
delgado escuro
sob o lençol azul da noite
tingindo
ainda que secretamente
a face da preocupação
de como atravessar o largo rio que se abre à pincelada
vermelha e fora de época
que os morangos já se despedem do inverno
e da boca o entrelace do sim e do não
é só qualquer coisa de maior importância, mas é só
como se atentar estranhamente bem no agora sempre contínuo
no misto de estouro e brisa
decifro-me ou me devoro

quinta-feira, julho 25, 2013

CIDADE JAZIGO: QUARUP SOLO


CIDADE JAZIGO: QUARUP SOLO from floratomo on Vimeo.

“É preciso escovar a História a contrapelo”.
Em tempos de memórias difusas, ontem é hoje.
A cidade-jazigo revolve as covas de Tupinambás, Guaranis, Carijós e Temiminós.

Uma cruz indica o final da estrada, ali jazem os deuses ensanguentados de um antigo urucum.

terça-feira, junho 25, 2013

eco

eco from floratomo on Vimeo.

terça-feira, maio 21, 2013

inverossímil

inverossímil from floratomo on Vimeo.

ou o beijo escuso de psiquê

quinta-feira, abril 11, 2013

vou salientar mais o fazer subjetivo até que saia objeto de mim.

quarta-feira, abril 10, 2013

idade média nos dentes

o que as pessoas fazem em suas idades médias? eu costumava inventar demônios para fugir deles, contrariamente ao que a humanidade fez na sua, na qual os inventava para persegui-los.

terça-feira, abril 09, 2013

desapropriado para insones

há lugares que só poderemos também encontrar nos sonhos, lugares que pereceram junto às pessoas, porque o concreto rui como um corpo. e esses dias andaram entre ruínas acontecidas, as das margens dos eventos antigos, muitos sobrepostos pelo sonho que evidenciava. estava a observar a minha mão com a impressão de que poderia manipular a mácula onírica. lançava-me por uma janela; entre as mãos, escondia a carta das línguas do poeta que tinha o costume de me procurar pelos sonhos. acreditava que aquele lugar era íntimo meu, e às vezes, via abrigo nele; então, como suportaria a invasão daquele poeta nos meandros da minha sobrevivência senil? mas isso foi há muito. hoje, por lugares desabitados, percorro, já estanciando o meu.

segunda-feira, abril 01, 2013

vênus de milo com avessos

vênus de milo com avessos from floratomo on Vimeo.

entrelíricas e vice-versa

sexta-feira, outubro 26, 2012

VELUDO AZUL ATONAL (heartsclub bazar II) @chacomcamofas

VELUDO AZUL ATONAL (heartsclub bazar II) @chacomcamofas from floratomo on Vimeo.

Nossa fantasia lynchiana de cada dia, dá-nos hoje. O céu é o limte!

terça-feira, setembro 25, 2012

A hora Lumière (heartsclub bazar) @chacomcamofas

A hora Lumière (heartsclub bazar) @chacomcamofas from floratomo on Vimeo.

*cinema cabe(a)lístico, teoria do miaos & outros infamantes profissionais..
Livre inspiração de arte e recorte, promovendo queridices e requintando araras e cores.

Tomemos Chá Com Camofas, no seu fabuloso bazar interativo, o lugar das excepcionalidades!

quarta-feira, agosto 01, 2012

cinemascope brilhante ato I.

o diamante atravessou a ponte do rio e coincidiu com a fábula da árvore preciosa.
foi mirando a ostentosa com um paladar indiscreto e direto à palestra:
- mas que vontade é esta?
apontou a maçã.
- agora ela é demasiada tardia. te provarei somente amanhã.
a continuidade do enredo não era um fato, ele sabia.
mas coloriu o segredo e se referiu ao próximo ato.

cinemascope brilhante ato II.

foram as horas
e o rio

o tempo
se refletiu em outro instante
o brilho 
arrastou sua vertigem para adiante
a maçã 
insistiu um abraço de copa

e a manhã foi uma mordida precipitada.

cinemascope brilhante ato III.

eis que a sábia fala ocorre à sombra...
onde jaz uma dúvida. 

remota dúvida.

- agora provada irá ter com o mundo e o eterno?

cinemascope brilhante ato IV.

se a dúvida é falta de respostas
a escolha é a perda de algumas delas

que sejam as vísceras, a torre, os olhos ou os sonhos...
os dedos para contar e os lados para medir

foi a esta qualquer intenção que o diamante se deixou debilitar
não permitia ao corpo a emancipação do seu costume
e nem à intuição a rebeldia do seu sangue


paciência...

eram quatro os ventos que lhe sopravam a mesma tentação, 
porém cada qual em distinta direção.

cinemascope brilhante ato V.


ele antevê o derrame da lua que se esvazia, e dissimula a noite orgânica em uma fantasmagoria visceral, percorrendo incessantemente o verbo que se desfaz na boca próxima, amortecida pelo seu éter de amante. a rompe feito uma matemática excessiva e depois sela o vazio com silêncio. o que transborda é habitado pelas licenças poéticas, foge aos nomes e às línguas...

ela o sente como o vento que bate a porta...

cinemascope brilhante VI.


o vento que encerra a porta, abre arbitrariamente o livro na página do meio. são descritos ali os termos das abstrações. porém todas elas se concretizam em palavras e nenhuma imagem se faz. depois, a página que se vira se torna à ela mesma, como se a continuação fosse única e estagnada pela sua falta. são logo as abstrações eternizadas, contidas num gerúndio babilônico, tão redundantes que a nada se abstraem.

cansada, ela contempla pela janela um tempo para a monotonia, a séculos de altura, vivenciando sempre a mesma paisagem, a daquele amor sem idade e nem consumo. quase acredita em um seguinte capítulo, talvez o de descer ao futuro onde encontraria o solo para os pés descansar, mas lá do alto ela pensa no céu, onde sua nostalgia parece mais genuína e a remete às imagens que subliminarmente tingem seus pensamentos quanto aos antigos capítulos.

cinemascope brilhante ato VII.


no escuro, ela vislumbra por outros olhos algo que lhe pertence. é tarde quando o tempo canta a sua existência e penetra-lhe uma incessante intenção entre os sentidos, ansioso por desnaturar os tecidos negligentes. é o seu corpo que pede mais uma vez um pouco de reconhecimento, como se a insônia lhe obscurecesse o ar e arquitetasse um labirinto reflexivamente insólito. nenhuma sinuosidade ainda lhe foi útil porque sempre se deparava com a mesma urgência, circundava em torno da monocromática inércia, buscava o impreciso paradeiro.

no escuro, ela se espera sozinha, tateando o frio comprimento dos seus pêlos em espanto. nada lhe é mais visível do que a sensação que se causa agora, nem há outra graça além dessa áspera nitidez. ela, então, devora aqueles olhos para não esquecer o caminho que fizera até ali e se esparrama numa paz ensurdecedora.

logo, o cansaço a envolve para temperar a noite cúmplice que se adia, abotoando-lhe as densas pálpebras e conduzindo-a a silhueta de um sonho...

cinemascope brilhante ato 8.


fugir do tempo era um beijo congelado, e a madrugada púrpura rebentou as hipóteses de um místico amor. mas este não cheirava feito o tempo, somente feria as concordâncias, todas ao frio do vazio, ante aqueles corações ardentes a derramar demasias de um grito sem lugar. quanto mais aquosos e pungentes, surtindo uma lisérgica ininterrupção, menos reparavam na condição do tempo que se perdia ao penetrar  naquelas ânsias, feito integrante da matéria que lhes palpitou sem ruído.

fugir do tempo era perpetuarem-se náufragos, unidos por uma memória imprópria, e a inexistência pôde enfim tornar-se real, como a madrugada púrpura que nunca houvera. mas aquela simbiose ofegante, das vontades dos amantes, poetava-lhes os segundos seculares de que careciam.

ainda o faz...

cinemascope brilhante ato IX.

creio que a madrugada faça isso conosco... um devorar de horas distraídas... eu, implícita na penumbra dessas horas, cumpro a minha permanência inevitável entre a absorta respiração e o gozo invisível, a tudo me atenho um pouco e nada me faz juízo. quiçá descubro lá fora uma nuvem púrpura que me encante mais do que esconda estrelas, que me desenhe ao acaso numa doçura de seda ou numa chuva lírica - daquelas em que se deita para sonhar como o mar. eu não tenho pressa em amanhecer, a pressa é oriunda da manhã, dourada e infantil - eu nasci da tarde, ansiosa pelo poente e batizada sob a lua crescente... creia-me, a madrugada faz isso conosco, um pincelar de olhos desajustados a vagar ao infinito, e talvez nos percamos se olharmos o corpo na cama, deitado, quase falecido; se pecarmos pelo pavor, mas o ofício da dúvida é estar sempre em composição e o “se” lhe ser híbrido de “tanto faz”. pouco importa o que há depois das horas, se há sede ou sorte, ou a morte de uma pequena existência, pois os dedos da noite me penteiam as vontades, e sinto-me toda um esvoaçar de gigantes cegos a mirar pretensos acenos apaixonados de seus olhos vagos e translúcidos. tais quais, por ora, são essas sensações de faz-de-conta, feito um beijo de psiquê na escuridão... se somos eros, não sei, mas a luz não há de ser acesa antes que se amanheça. porque a madrugada sempre fez isso conosco... um demorar de horas distraídas.

cinemascope brilhante ato X.

o meu agosto é um cinema
é uma ladeira, uma madrugada
parada, atravessando uma cardinale
com a flor presa à orelha

um plongé de paralelepípedo
uma subliminar de estrela

sexta-feira, abril 27, 2012

lemniscata

lemniscata from floratomo on Vimeo.

once upon a time a long haired lady..

domingo, outubro 16, 2011

Práticas do meio dia

Quando deixado, o paraíso ruiu. Calor perverso, mas lua espectral. E você nem reparou nos fios de cabelo que ficaram no caminho branco, livre e inescrito, à mercê da semântica do vento selvagem. Você olha para mim e diz que não somos nós os únicos. Uma ironia em primeiro plano e o inferno em segundo. Na mala, um grilo e uma serpente dialogam em pensamento uma paisagem novamente inútil. O oásis de outrem. Somos nós o vento, o suspiro como aquele que nasce dos céus e jaz em mormaço mundano, e agora nos vejo comuns, desprovidos do hálito edênico. Perigoso é se distrair... Há pouco, fui atropelada pela lua sofrendo por abstinência do apocalipse... Porque parte disso ou é ambíguo ou é fantasia nossa! Práticas do meio dia, do encontro kamikaze das abelhas na minha xícara de café preto, às nascentes das meias ideias. Sensação em ré, em fé, em eclipse.
Diariamente, sobre nós as horas dificilmente resplandecidas... Certa euforia em batucar os dedos na mesa, em beber mais água que o dilúvio ainda não veio. Nossos outubros são também cinema, e o corte em continuidade, cenário comum da terra descomprometida. Pecado é mais amar o semelhante. Desprazer em te conhecer. Quem eu gostaria que fosse, se fosse. Impreciso agora é o espelho para o roteiro reflexivo, quem deverá ser o mais autêntico de mim? Se este é um diálogo com deus, que seja um monólogo entre mortais. Sem platéia. Narciso tem Preguiça da cidade. Vazia porque conhece a ausência. O nosso deserto. Deixei que os últimos dias se passassem sem nós. Questão, às vezes, de fazer, sem ser por inteiro. Quando terminada a gênesis, a pena sentiu as chamas já picarem o coração humano, uma maçã abocanhada. Que por se apegar às coisas tão íntimas... Menos singelas do que uma felicidade latente, daquela que não se percebe. E depois, sob a sensibilidade de uma gota d’água, prenuncia a tempestade dos metais. Estéreis e graves. Entre uma imanência e outra.  E metade de mim é desapropriada. O espaço pode ser medido pelo tempo. Só depende quanto tempo tem. O nada é o de sempre, serve como lírica.
Percebo que o feitiço se quebra quando o estilhaço de vidro sai naturalmente da minha pele. Os defeitos só me poetizam. 

domingo, outubro 09, 2011

profana ceia

quando a campainha tocar, uma mulher ascenderá e outra vela apagará. como suportar? o sol ainda torrando os neurônios da auto-sabotagem das deusas.  mas as papilas explodem no beijo, que dançando sob a lua novamente beberam demais, vomitaram a conexão friamente fraterna.  e isso é um fenômeno afastado, também queremos ficar sozinhos com este cálice sobre... e lá se vai o sentido... e grilos cantavam até o meio dia fracassos do ser e do sexo. digo mais, depois de come-los vivos, tocarei meu jazz em sua pele, ... as formas se confundem entre sombra e luz. - rodou, rodou e acabou dormindo, e chegando ao fim voltou-se ao começo.

daya gibeli
odilon moura
marcelo cucco
monique feder

quarta-feira, agosto 31, 2011

esfingindo

teso o corpo afiado 
tece em sangue a réplica
do falar sobre o inevitável
delgado escuro
sob o lençol azul da noite
tingindo 
ainda que secretamente 
a face da preocupação
de como atravessar o largo rio que se abre à pincelada
vermelha e fora de época
que os morangos já se despedem do inverno
e da boca o entrelace do sim e do não
é só qualquer coisa de maior importância, mas é só
como se atentar estranhamente bem no agora sempre contínuo
no misto de estouro e brisa
decifro-me ou me devoro

sexta-feira, agosto 12, 2011

aristotélica


nossa resistência por um fio
que de lícito há a dança
e o pretexto da mimese


marionetas também tem coração
removível
e solúvel em água


à venda em armarinhos
em papelarias em pedaços


se memória 
é retórica
de quem as manipula

terça-feira, agosto 09, 2011

entre suores barrocos, a prosopopeia moderna de contar histórias pelo corpo em preto-branco-sépia, hoje tem cravo no almoço e ilusão no jantar

quinta-feira, julho 28, 2011

práticas da insônia: entre os gatos

não é porque à noite todos os gatos se misturam – e não se sabe o que distinguir do vermelho e o azul. a mais verdade é que, à noite, não se pode mandar cartas, escrevê-las talvez, e é por essa razão que o correio só permanece aberto durante o dia, para que o autor considere melhor se deve mesmo endereçá-las. e uma vez foi assim, temerária do conteúdo deixei uma sem destino, troquei de envelope e até cuidei em mudar a caligrafia do remetente. claro, o remetente poderia ser qualquer maria que não fosse a minha. só o desejo de ocultar o assunto foi que não me ocorreu. dentro, o meu nome assinado, e ali fora, assassinada a minha autoria. até porque não são os gatos os únicos a ter um nome anonimamente próprio, só eu sei o que não sei de mim. mas vejo que pela manhã, depois de amanhecido um sonho, raramente ele continua o mesmo, e já não são as palavras que o traduz, é outra coisa. coisa para que nem se dá o nome para não se dar o trabalho de permanecer no tempo o que não é do seu feitio. simples. porque não foi possível ser aquela que a escreveu no momento em que cheguei ao correio. tarde demais. como se falasse sozinha, a carta pôde ser lida pelo carteiro curiosamente perdido em meio a envelopes verossímeis. tanto faz. nem só os gatos se misturam.

*cats (musical), TM 1981 RUG Ltd

terça-feira, julho 26, 2011

pandora I

dentro da caixa tem um corpo, nada evidentente,
quimera de ser surpresa,
alteza
mas curvo enquadrado, tardio
poente
insuportavelmente lento
latente

dentro do corpo tem uma vírgula sem ponto
quimera de ser cicatriz,
atriz
mas fugidia incapaz, de dissimular
mágica
textura alguma
nem trágica

dentro da vírgula tem uma ligação
à cobrar
quimera de ser ritual,
pontual
mas à perversa distância
à toa
imersa
repleta de caixas.

sexta-feira, julho 15, 2011

ave malícia
lua cheia de graça

quinta-feira, julho 14, 2011

quando ela permanece em silêncio, o primeiro momento passa despercebido, mas quando se prolonga o hábito, causa dele uma aguda vontade de investigação. e depois do por que? vem-lhe o lúcido desejo de continuar assim. hoje, achou entre as horas anteriores a paráfrase que condisse a falta de. é ruim ter de se lembrar de esquecer. e por isso nenhuma palavra basta.

domingo, julho 10, 2011

práticas da insônia: na terra

8.1 na escala richter. de um lado para outro na cama de quem escolhe a companhia dos abalos, nem tão tarde da noite, mas parece que não dormimos há tanto... desde que arrancaram os meus corações do espelho. e mesmo dormindo, sonho que acordo. até beethoven tem me parecido mais fácil, disse túlio. nessas horas eu me identifico com ele, disse eu. toca-me o calabouço de silêncio em enésima sinfonia. vibrante e atual no que os dias em 33 rotações por segundo vão se costurando pela agulha desastrada de direção. i wish it was wednesday. só por precaução. a terceira alternativa era O arbítrio, a distração e todo coração têm seu preço. depende de que lado você lambe a ilusão, disse juliana. l'imagination est encore plus excitant? desconfio que só ela há. desde um colapso de memória de deus, as ondas se repetem no mar, uma após a outra, o mesmo gesto em diferente performance, quase única se não fossem elas únicas. e diana se acomodou na banheira para tocar o violão, para me fazer companhia ao banho, como se a infância de alice tivesse que se prolongar em tantos compassos, como se eu não pudesse sonhar sozinha, sendo eu todas elas em trabalho de resgate. mas o destino as manda assim, elas se lançam aos ares toda manhã e depois entranham sua lascívia à terra, à noite. e entregar-me a essa terra em ousadia persefoniana é para que eu devolvendo a este grande corpo os meus corações, tenha que perdê-los continuamente. só porque são recíprocos. é o que me diz em sua língua de elefante aquele homem que não tem medo do escuro porque não precisa enxergar os outros dele. estamos todos aqui. desde que deus nos concedeu a alucinação cotidiana. para que nós dois não morrêssemos de tédio. nossos corpos em fendas necessitam compreender mais que os continentes.

pois sim, a anacronia dessa história é de uma patologia irreversível. porque a vida é uma doença terminal, disse o pai de luisa.

* hans bellmer, sans titre, 1932

quinta-feira, julho 07, 2011

sem saber
ela selava o que desarticularia toda a história
depois de abrir do papel de bala
a lembrança de cereja de que ele se despedia
sem saber

quinta-feira, junho 30, 2011

errância

há uma incógnita tatuada no braço do professor, ele diz que a transcendência é o que não é imanência, deus com letra minúscula não é isento de destino.

quarta-feira, junho 08, 2011

qual o cheiro da maniçoba?

há um coração tatuado na bochecha da professora, ela evidencia que o céu é o que não é terra, inspira o casulo e expira seu hálito de borboleta.

terça-feira, junho 07, 2011

oito minutos

tempo suficiente para refazer todo o trajeto que me trouxe até plutão.

domingo, junho 05, 2011

práticas da insônia: no espelho

no caminho ela mais enxergava a cidade pelos espelhos d'água no chão. pisava-o com o muito cuidado de ovos para que a tempestade não a alcançasse pelos pés. era tanta chuva que o dia se fazia mais curto e a madrugada se alimentava com as xícaras de café preto e os livros abertos sobre uma espera de acordar os mortos; naquela sala ela mais enxergava a história pelos espelhos da parede, quando encontrava a sua imagem sentada na poltrona, procurando o lugar e o tempo nos quais se perdeu, e tinha a certeza de que estava lá, do contrário, pensava ser ficção o que fazia com as mãos, e mesmo que visse o movimento que compunha do corpo, o que ela mais esperava enxergar era a sua expressão, por exemplo, ao descascar uma cebola ou matar uma barata. o sentir era tão subjetivo que ela poderia se enganar completamente, mas jamais a espontaneidade lhe furtaria a razão. ao lado dela à poltrona estavam os pais pendurados na parede, um retrato sépia de casamento ao avesso. de perto eram só um homem e uma mulher, de longe formavam com ela uma família, através do espelho. havia coisas que ela entendia melhor mantendo distância, estando alheia, incluída.

sábado, junho 04, 2011

o que zeus separa, o amor repara..

quarta-feira, junho 01, 2011

vEROSsímil

terça-feira, maio 31, 2011

diálogo com pretensão

É, faz tanto tempo...

...que não nos vemos...

...e nem nos falamos.

Tenho sonhado com você.

Eu sonho dia sim dia não.

E o não?

Não sonho. Não lembro. Hoje é não, e tenho a impressão de ter ido dormir pensando nisso.

Nisso?

Que eu não sonharia com você.

Mas é bem capaz estarmos sonhando. Eu não vim até aqui.

Nem eu.

Nem mesmo me levantei e escovei os dentes.

Eu só me lembro de ter escovado os dentes e me deitado.

Mas hoje não é o dia não?

Sim.

E mesmo assim estou no sonho?

Isto é um sonho?

Não parece. Sinto seus pés frios embaixo do lençol.

Eu sinto seus pelos das pernas nas minhas.

É, faz tanto tempo que nos amamos...

E nos enganamos...

Tenho sentido a sua falta.

Eu sinto dia sim dia não.

E o sim?

Não é hoje.

É quando?

Amanhã.

Quando eu levantar e escovar os dentes?

E ir embora.

Mas se eu não vim...

Então eu já sinto.

terça-feira, maio 17, 2011

Práticas da meia noite

Você, eu não sei, mas ela fez abuso do andar da carruagem, zombando da morte e da paciência, talvez tivesse a sorte da lua na casa 8 ou nos caminhos que deslizaram para a meia noite, lugar tão inóspito que a ninguém pertence. Disse que se lembrava dos seus passos na água, foi isso mesmo? Era o que também dava ideia de deslocamento, dos mesmos pés suspensos como se andassem sobre a água, e depois desviando dos paralelepípedos ela se lembraria do incêndio na padaria, quando de longe via um castelo da infância pegando fogo no meio do seu quarto às práticas da meia noite. Você dizia a ela que melhor que Peter Pan, ela viveria para sempre quando lavava os pés no chuveiro gelado da casa que não tinha janelas, mas frestas por onde entrava a curiosidade do vizinho. E nessa noite ela segurava a chuva com o pensamento, encostada à parede com a mesma vontade de soltar-se para longe, para aquela ladeira santa que ficava a quatro anos de distância, e assim lembrava o mundo de vocês num quadro preguiçoso que toda manhã ao acordarem tinham de emoldurar outra vez, nunca pertenciam à mesma noite inteira. Quando sem querer, você esbarrou na lembrança dela, como uma carta do Tarot mística, estrela e maçã. Os olhos risonhos inundaram a rua, e ela nem se dava conta que abrindo o guarda-chuva também guardava tudo para fora do pensamento. O castelo, o chuveiro, a meia noite. Um minuto depois, com a carruagem estacionada em frente à casa, o copo d’água que ela consigo dividia já estava vazio.

domingo, maio 15, 2011

diálogo com a tormenta

vigília em estado bruto

quero digerir telefones,
adormecer plásticos monstros sacrifícios,
que a abstinência de realidade delira imperfeição,

o que o corpo não vê a mente perdoa

quinta-feira, maio 12, 2011

.

eu tenho a licença poética para parar o tempo,
no tempo.

* foto double breast por erwin blumenfeld, 1948

domingo, maio 08, 2011

simples

hoje vejo como é simples o que o vizinho escreve, o que lhe corre pelo pensamento senta-se nas palavras. como o gesto de descascar a laranja, de volta em volta, com a faca desnudando a fruta sem precisar retomar o corte. coisa de destreza. coisa bem afiada na mão de que quem acha certo o que faz. é simples também dizer o que se passa pela memória quando se lembra. quando se lembra. às vezes tenho só as palavras chaves do seu discurso, então manipulo o que quero acontecer, falando pelos seus olhos faço dizer o que já foi preterido sem que isso soe meu. o que é seu. é que seria mais simples se eu prestasse atenção. no caminho da volta, depois, que a ida não tem mais particípio e me encontro em meio dessa sua, nossa história toda que ajudei a inventar. na próxima vez que me avise o tempo de parar. quem não estiver distraído. olho para o prato, e a casca inteira me dá vontade de revestir o bagaço da laranja. mas é melhor que não. é melhor mesmo colocar tudo na lixeira porque é simples esconder o que se pensa, mas em algum momento o cheiro da omissão fica evidente, o mofo nos olhos é o sinal de que a validade dos seres é breve. e das coisas que são ainda mais breves. vizinho que retorna à casa percebe se está sozinho, a luz apagada não precisa de explicação. é simples.

terça-feira, abril 19, 2011

# o meu subjeto é um cinema

foi assim, ela teve que se desencontrar com o rapaz do chapéu preto, mesmo que não fosse pretensão... dez minutos são sempre muito relativos... na praça havia um pretexto deserto, e ainda que presentes ali os quatro bêbados e a mulher dos cigarros a varejo, o bonde não demorou a passar, como os fulgores da madrugada dos músculos das memórias expectantes.
não perdia a viagem quando levava dois cigarros para casa.
do outro lado do filme.

* foto filmstrips kiki por man ray, 1922

domingo, abril 10, 2011

oráculo das oito

se eu não ligo a televisão é para não repetir os mesmos erros. a quem pertence essa fragilidade de se diluir em repetições e acabar por inventá-las? em ilusão. se hoje o meu sujeito é efêmero por degraus crescentes independentes, amanhã ele pode ser a pedra polida das gerações de chuvas que arquitetam o tempo. ainda prefiro ser assim, sem ter acesso às repetições sucessões previsões da chuva. o tempo anda bem de olhos fechados, só ele sabe por onde vai sem nunca precisar voltar.

sábado, abril 09, 2011

fluido fulgor faceiro
finito fado
feliz
feição

terça-feira, abril 05, 2011

eredità

no sonho eu me despeço do meu avô. eu, de partida para o mundo de nós, acordados, lugar aonde as idas são permanentes, à nossa revelia. mas no sonho, à varanda da casa dos ladrilhos amarelos e tijolos azuis, também o lugar de sempre, muito semelhante ao outro, ata-se firmemente a verdade num abraço e em palavras de saudade. palavras tão bem articuladas que é difícil distinguir uma fonte da outra, e meu avô em nossa língua tão familiar não sabe do que se despede na calma e no conforto de não dizer o que, mas revelando que não há despedida naquele abraço, que o contempla no que não há fim e que disso percorre os últimos segundos de vigília até eu acordar abraçada aos lençóis da manhã.

domingo, março 13, 2011

cala-me quando for preciso
os demônios lêem pensamentos em vão...

quinta-feira, março 10, 2011

mais quente e mais blues.

é um sopro na madrugada sem dono. sempre parece que conheço essa música, mas nunca reconheço. e insisto em conhecer, e parece mesmo que ela pertence à lembrança de alguma felicidade com você. e quando penso nisso sinto amor, amor que existia mesmo antes de mim, de nós, e que jamais deixará de ser. enquanto este sopro tocar quente não me importa qualquer memória imprópria, acontece o que não existe, e é isso o que fica para todo o sempre.

sexta-feira, março 04, 2011

Habitat

Tenho sono, mas o meu Corpo nervoso quer atenção. A minha. Acanhado e despossuído ele só quer a mim, tem medo que o desconcertem outra vez. Eu o acaricio devotadamente... Se meu Corpo fosse santo eu o louvaria, zelava para que o paraíso fosse nele igualmente. Então, meus dedos o tocam como os deuses concedem graça, e o recriam. Penso nesse Corpo agora não mais como a casa, mas o Habitat apreciado pelo destino por mim descrito numa folha de imaginação inquieta. Corpo, durma que ainda é tempo, é lugar, é forma de se querer. Eu peco, mas também guerreio pela tua vontade imortal de ser o seio do mundo, amamentá-lo da seiva que somente tua paixão compõe. Mas ainda o Corpo fora de lugar, minha flora mal-fauneada, desatenção redobrada, precisa de fé que o vento e a noite não a rejeitem.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

diálogo entre musos III

cade?
não te li

oi
leu onde?

ah oi
não, vi uma mensagem naquele número vermelho, mas não li o que estava escrito

isso é meio esquisito mesmo
deve ter sido reminiscência da conversa de ontem..

ah... as reminiscências...

é com i ou com e?
... is offline.
... is online.

acho que com i

é, tem razão..
não tem escrito mais no blog
vc
nem eu..
fiz uns textos fora de data

tenho escrito, mas não postado... não tenho feito muita coisa no feitio do blog (de fazer um solo fértil para a MINHA literatura)
nem sei mais se a MINHA literatura existe
e você, pq não?

poderia colocar uns fragmentos no blog
nada precisa ter muito sentido a não ser que seja pra SER sentido..

eu?

eu não escrevi mais por falta de exercício ou inspiração ou vontade de estar assim

rsrsrs

vc? não sei.. o que vc escreve, eu digo
ser sentido e não ter sentido
entende?

to vendo... ãããããã... sentido, né?
aushauhsuahushauhsuahsuhaushuahsuahsa

hahahahaha
tenho mais é buscado fonte de
insPIRAÇÃO

fonte de SENTIDO

tenho observado o mundo daqui
... is offline.
... is online.

????????
pra inspirar-se basta inspirar... tenho pensado bastante nisso
a vida se basta!

esses dias eu liguei a câmera e me pus a falar de mim

é muito diferente do daqui?
bom...

depois pensei..
eu sei que não vou mostrar p ninguém..
basta! a vida é um cinema na maior proporção

na menor também

o mundo daqui? deve ser..
qualquer mundo deve ser diferente
que o seu

tem uma frase do Artaud que fala que "A arte não imita a vida, a vida é que algo de transcendente com a qual a arte nos põe em contato"
(Meu mundo?) pensei que estivesse falando do seu

a arte para se alcançar a vida.. gostei
faz sentido
é sentido

SENTE-se
uahsuahsuhaushauhsuahsuahusha!!!!!!

ah tá, vc perguntou (eu achei) se o daqui era diferente do "daqui" daí..

ah tá... ããããã o daqui daí, é diferente do daqui daqui (seus)?
é, eu sei que é
só quero saber como está o ãããã daí daí agora
... is offline.

procurando o lugar daqui sempre, né? (send as a message)
Your chat message wasn't sent because ... is offline.
... is online.
... is online.

oi?

oi (send as a message)
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... is online.

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

ENTREATO - E não era sequer uma luxúria de amor

ENTREATO - E não era sequer uma luxúria de amor from floratomo on Vimeo.

direção daya gibeli, victor pessôa rocha, thatiana verthein

cenário instrumental figurado ao final do take 7, sonhos insones, o susto em quando quase se acorda, delírio em cornucópia... divino e verossímil

trilha sonora original daya gibeli, victor pessôa rocha, wilson moreno, guilherme narciso

quarta-feira, janeiro 05, 2011

black is black

a chuva apertou naquele fim de noite e mundo, e ele contendo a ansiedade, tirou do bolso um cigarro avulso, acendeu mesmo assim, que molhasse, que não a encontrasse, depois que perdeu a cabeça e a hora, palavras são qualquer coisa que se faz desapercebida depois de certo tempo, mas ela não esquece, nem quer esquecer, há cada momento a voz rouca lhe pronuncia na mente, implorando de joelhos para que ela o ame ou vá embora, e nenhuma das duas coisas, ela não o amava e nem ia embora, ela queria calma, outra tatuagem no corpo, quando fizesse 33 anos. a noite é outra dessas coisas que se desfazem com o tempo, um pedaço de madrugada, as fotografias eram fiéis, black is black, e qualquer tentativa de amarrar essa mulher em sua vida era revelando o que mais do seu corpo na sua câmara escura avermelhada. agora. antes que o negativo amanhecesse. quero paz nos olhos de quem me espreita veludo. e os olhos já cravados no corpo dela era dimensão.

*foto de jacquelinne goddard por man ray, 1930

sexta-feira, dezembro 17, 2010

A peste

E ela fechou a janela para os morcegos não entrarem, porque nessas noites de verão a peste teima em entrar por qualquer brecha na sua vida. Sentou-se na mesa, os pés na cadeira e chamou por aquele que não se encontrava no quarto. Uma drosophila, no chão, parecia uma estrela, quase a confundiu com uma lantejoula que não brilhava. Pensou em colar estrelas nos cabelos, banhar-se de nebulosas se ainda pudesse. Porque em horas como essa, lembrava-se do que há do outro lado da janela fechada, ali o céu sempre estava ao seu alcance, quando deitada na cama encarava a lua, sua sereia apaixonada. E esperava o telefone tocar, como tocava aquele corpo seu livre da peste. Tocava sem sentir. Sem manusear, com as mãos ocupadas dos objetos pensativos, o telefone, a chave e a música que a contasse outra história. Em vão. Negaria se se perguntasse, mas em menos de meia hora já estaria do outro lado, na força de uma corrente, incoerente, fora da casa e de si.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Amor é irreversível.

Prendi-me à estética do princípio, no meu cinema. Mudo. Distraído. Agora furioso de palavra sem significado. Sensação de que tudo não passa de um ensaio para a existência que nunca chega. Em oito segundos acaba a eternidade.

sábado, outubro 23, 2010

le premiere bonheur de ma vie

no sonho, minha amiga e eu estávamos numa cidade labiríntica, diante de um longuíssimo mausoléu, talvez o cemitério mais antigo e maior do mundo, da história. espécie de egito na américa latina, méxico, machu pichu. mas outro lugar. a grécia. viagem do nosso imaginário. era noite. em casas simples e flores nos seus terraços. eu menstruava. em outra ocasião. alguém falava enquanto dormia, suspirava, murmurava o que não pode ser lembrado depois. na língua do imaginário. mas não me atenho ao sono alheio enquanto o meu ressoa bravo e patente. porque ele estava lá, le premiere bonheur de ma vie. no sonho. pedindo para que eu lhe dê uma forma. mas me recordo somente dos olhos dele virados para os meus. num sorriso de bom dia, princesa e suco de laranja. descubro, acordada, que o sonho é mais antigo que a cidade. e que o labirinto é o tempo. escorre para baixo o bendito tempo e ele diz que não habito mais o meu corpo, pois aquele já é outro.

sexta-feira, setembro 03, 2010

minha autoria

ela está matando o tempo com o amor alheio, vestida de veludo e céu para que as canções de sua cabeça sejam de um outro intérprete.

ela está matando o amor com o tempo alheio, despida de veludo e céu para que as canções de um outro intérprete sejam cravadas em sua cabeça.

ela está matando o céu com a canção alheia, encarcerada de veludo e amor para que o tempo devotado de sua cabeça seja de um outro intérprete.

ela está matando a canção com o céu alheio, liberta de veludo e tempo para que o amor descrente de seu intérprete seja de outra cabeça.

ela está matando o intérprete.

domingo, agosto 08, 2010

patrimônio#macondofeelings

porque ela nasceu, ele fez o mesmo. o pai dividia os seios da mãe com a menina nas noites de chuva, umidade relativa do ar 68%. quando não havia leite, ele cantava, e assim aprendiam a língua juntos. depois dos primeiros passos apontavam as estrelas no céu descobrindo seus nomes. Escorpião e Capricórnio. não havia outra infância tão antiga como a deles, quase perpétua nas tardes do parque de Shangrilá e nos saltos de Ícaro nas águas do aquário do grande peixe. e não havia músicas mais bonitas que as deles. não foram à mesma escola. o melhor professor era a imaginação, uma memória ancestral em comum. os dedos da menina com guache descreviam o que era sensação; os dele, com carvão, desenhavam o que amavam. o que ambos sentiam era a melhor forma de prestarem atenção no mundo, porque de impressão eles entendiam. textura de manhã, cor de água, som de mãe, sabor de dó. mas tão pequenos que eles eram, os olhos não lhes cabiam, por isso se perderam cada qual em seu jeito de procurar a pronuncia dos seus limites. e apesar de terem a mesma idade, o termo do tempo deu ao pai o cansaço da noite, e à menina o sangue apressado e inquieto das auroras insones. palavras a menos ou dores a mais lhos tornaram irmãos distantes, vontade de um pai mitológico que só os juntavam nas horas infantis, um passeio longo entre avenidas, pipocas temperadas com manteiga quando todos já dormiam, ou as teorias das origens dos significados. a imagem dos sentidos foi dando lugar à imagem dos sonhos de espera, um dia o pai disse à menina que acenderia um cigarro para que o ônibus chegasse mais depressa, e ela assim também o fez. o mundo teve que se desfazer de tantos trajetos para que depois que o ônibus os levasse, os trouxesse de volta, mas para um tempo quando o pai de barbas grisalhas escutasse atentamente com a filha de mãos secas o pôr do sol lhes contar que aqueles significados nasceram com eles. vamos tomar sorvete!