quarta-feira, março 30, 2005

durante suspenso

não é mais ser
é tocar a espera, de leve e recuo
inclinando o dia para transbordar a noite
feita quimera de si mesma
para digerir o que demora, prolonga
e tempera o interstício
é povoar o tempo de abstração
à esfera de ser resignada
por inventar o vindouro desejado
que lhe coubera ao instante.

cosmogônica

queria fotografar o infinito
e sequer sabia de sua existência
mas levantava aqueles cabelos para contempla-lo
ali rente à raiz da existência dela
a musa no escuro
perpetuando
ele invisível

segunda-feira, março 28, 2005

imitando qualquer um que eu conheça

a vida o pegou de jeito numa esquina de dúvida, que se passa pelas vias de fato? atinaria à vontade, ou simplesmente a responderia o quê? no entanto, se arrastou com certeza e deve-se à imprudência que a nada alcançou, mas no relógio o tempo já havia voltado, e ele sequer mudou de posição. esperou por disfarçar o óbvio e entrou pela primeira porta que pensou estar aberta. caiu por desilusão. pois bem, ele não foi o único a fugir.

penetrando qualquer lugar que eu vá

ainda que fosse de mentira, havia a esperança de atender o telefone que tocava, longe dali, à cerca da imaginação aguçada, pois era permitida ao estrangeiro a longa reticência de se sentir em casa.

quinta-feira, março 24, 2005

intuyendo te percibo...

desatascando los poros de la intención... existiendo en ambos los lados un sentido es pertinente... pensando tu es que te oigo.

quarta-feira, março 16, 2005

à deriva entre os vãos da pauta de outrora

não tenho palavras, mesmo porque sinto privação das exatas verdades que respiro, e o que venho valer é de demasiada alegria e dor, voa com a leveza de um papel solto em meio ao vento que se sucede, e pesa como a embriaguez que propõe toda aflição de uma noite sem ponteiros...

e não recordo as fontes de percepção para poder fazer deste pensamento um relato que se concilie com a realidade, pois nada retenho de real senso.

quero o que me faça reparar neste incompossível conceito que aflora em algum canto em mim descompassado, mesmo que fosse de desconhecido instrumento para poder absorver o que me é ignorado.

sexta-feira, março 04, 2005

derradeiro expurgar

para acreditar que o sentido das coisas era prático e definido eu precisava contornar os dias à procura do mais viável acontecimento, que faria de mim algo mais absoluto e largasse à sorte a espera dessa essência pouco administrável, que encontrei por um momento a atravessar-me como um vento sem direção.
o que acontecia de fato era o possível alarde que de a segurança dos desejos fosse a mais temível conjectura entre a vida e a morte, e assim, como a pele teme o ferrão da solidão, perdi a vontade da loucura e segui a rua noite adentro para encontrar a esquina em que nos deparamos com a certeza. era clara e convincente. que me agarrou numa suspensa ironia, a de suportar o que me é bem vindo e também desconhecido, a partir de provável acerto, a vida se renovando, a loucura mudando de cor e nome, avistei a breve relação das coisas em mim. pois estive procurando resgatar as noções que aprendi em outrora e que em nada obtive resposta, devido à impaciência da opressora cartada que me trouxera os últimos anos. não havia dúvida de que aquilo fosse a última oportunidade de tranqüilizar os demônios já prescritos em minh’alma e descobertos pela insistência das noites de insônia na encoberta cidade de destruição. um dia deveria partir dali, e assim o fiz, de forma tangente, sem alguém perceber. e logo que prestei atenção estava envolvida numa terra inteira das pessoas que se entretinham, ou que demasiadamente se expunham, mas que de certo ângulo fossem todas uma só, em detrimento de um mesmo sonho, o da liberdade que é o destino dos caracteres na história contínua. um grito de feliz agrado.

quinta-feira, março 03, 2005

possível amor...

um pouco do amanhecer dos dois estava a repara-los depois da noite que os emudeceu. havia entre eles um tempo dispendioso debruçado na distância de um vago intervalo. era simples como queriam, mas o percurso também era um silêncio, longo e tímido, e um deles deveria quebrá-lo, chegando ao outro lado daquele oceano que separava o desejo do ensejo. era simples como sabiam, mas ambos temiam que juntos fossem uma miragem, que seus corpos se esvaíssem desse mundo que não existia, e tornassem mudos à noite que esperavam em vão. o que bastaria para o amor se eles o deixassem intacto? por acaso estavam cansados de escreve-lo sem usufruir dos seus sons, e por fim chamariam-no em outro momento, quando a coragem se vestisse de um nome semelhante e a dúvida anoitecesse entre os dois.