sexta-feira, dezembro 17, 2010

A peste

E ela fechou a janela para os morcegos não entrarem, porque nessas noites de verão a peste teima em entrar por qualquer brecha na sua vida. Sentou-se na mesa, os pés na cadeira e chamou por aquele que não se encontrava no quarto. Uma drosophila, no chão, parecia uma estrela, quase a confundiu com uma lantejoula que não brilhava. Pensou em colar estrelas nos cabelos, banhar-se de nebulosas se ainda pudesse. Porque em horas como essa, lembrava-se do que há do outro lado da janela fechada, ali o céu sempre estava ao seu alcance, quando deitada na cama encarava a lua, sua sereia apaixonada. E esperava o telefone tocar, como tocava aquele corpo seu livre da peste. Tocava sem sentir. Sem manusear, com as mãos ocupadas dos objetos pensativos, o telefone, a chave e a música que a contasse outra história. Em vão. Negaria se se perguntasse, mas em menos de meia hora já estaria do outro lado, na força de uma corrente, incoerente, fora da casa e de si.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Amor é irreversível.

Prendi-me à estética do princípio, no meu cinema. Mudo. Distraído. Agora furioso de palavra sem significado. Sensação de que tudo não passa de um ensaio para a existência que nunca chega. Em oito segundos acaba a eternidade.