terça-feira, abril 19, 2011

# o meu subjeto é um cinema

foi assim, ela teve que se desencontrar com o rapaz do chapéu preto, mesmo que não fosse pretensão... dez minutos são sempre muito relativos... na praça havia um pretexto deserto, e ainda que presentes ali os quatro bêbados e a mulher dos cigarros a varejo, o bonde não demorou a passar, como os fulgores da madrugada dos músculos das memórias expectantes.
não perdia a viagem quando levava dois cigarros para casa.
do outro lado do filme.

* foto filmstrips kiki por man ray, 1922

domingo, abril 10, 2011

oráculo das oito

se eu não ligo a televisão é para não repetir os mesmos erros. a quem pertence essa fragilidade de se diluir em repetições e acabar por inventá-las? em ilusão. se hoje o meu sujeito é efêmero por degraus crescentes independentes, amanhã ele pode ser a pedra polida das gerações de chuvas que arquitetam o tempo. ainda prefiro ser assim, sem ter acesso às repetições sucessões previsões da chuva. o tempo anda bem de olhos fechados, só ele sabe por onde vai sem nunca precisar voltar.

sábado, abril 09, 2011

fluido fulgor faceiro
finito fado
feliz
feição

terça-feira, abril 05, 2011

eredità

no sonho eu me despeço do meu avô. eu, de partida para o mundo de nós, acordados, lugar aonde as idas são permanentes, à nossa revelia. mas no sonho, à varanda da casa dos ladrilhos amarelos e tijolos azuis, também o lugar de sempre, muito semelhante ao outro, ata-se firmemente a verdade num abraço e em palavras de saudade. palavras tão bem articuladas que é difícil distinguir uma fonte da outra, e meu avô em nossa língua tão familiar não sabe do que se despede na calma e no conforto de não dizer o que, mas revelando que não há despedida naquele abraço, que o contempla no que não há fim e que disso percorre os últimos segundos de vigília até eu acordar abraçada aos lençóis da manhã.