sábado, fevereiro 26, 2005

atemporal

olha as horas. elas vão e não voltam. porque lá ficam, não sei onde, e me levam com elas.

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

fragmentista enquanto inteira

não adianta chamar que não escuto... ando de um lado para outro na pauta de outra música, tocando um significado qualquer que não interfira em chamado algum. repito a nota, o acorde, a corda...

acorda e pensa. qual foi a fonte de toda essa fantasia? resume-se à vida que queres ter? desconheço a fôrma que te esculpiu para longe e a essa conduta de te desprender. todo mundo vê, mas ninguém acredita que do cheiro teu sobrará outra fantasia, a do acaso e repetidamente se faz a tua ausência. pois te atropelam por demasiada falta de interesse e o que te pensam não existir está ocorrendo em rápida resolução. verdades virtuais são de grande valia quando a natureza dilui-se em sonho.

assim existo como duas, uma que recebe da outra que dá. troco diferentes sentimentos comigo, à noite enquanto durmo, de dia quando dispenso a ilusão. há um remanejo de existência em cada instante que torno infindo. volto a pensar na condição da fonte, inspiração do espelho, que a tudo oculta senão deforma. e grito só amanhã!

não quero esquecer. de todo o resto eu peço permissão para ludibriar-me quanto a este choro. penso em cantar sozinha um trecho do meu eco.

é tanta poeira que as frases em lá se tornam indecisas quanto o sorriso em si... os abraços, na realidade, são de mágica convicção e nenhuma decisão precipitada irá se adequar em dó.

existem verdades dissolvidas entre raciocínios dispersos que mal eu as reconheço... insaciável desejo meu de expressar o que não sei...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

imperceptível

meu mundo... tenho a impressão de que me olhas sem prestar atenção, com uma distração de criança, dos movimentos largos e imprevistos, tocando os espaços sem nome, sem chance de conquistá-los em verdade ou de compreender as palavras que se deitam feito os segundos; logo elas passam a não existir novamente, porque não se fixam, como a idéia de mim, em vista dos olhos teus que vão através, se distanciam e não enxergam meu corpo aqui, tão nítido quanto o teu. é como se eu não estivesse e tu despercebido fosses.

ai, mundo meu, reconheças a mim que tão logo já perco o enredo e a concordância!

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

eu desconfio dos cabelos longos

o que está aqui dentro lateja, entorpece. é fuga de feitiço, que deixa o corpo abandonado de sossego. me contem desprevenida de todo acerto, e reflui ao ponto de me inverter. já bastam os cabelos longos e úmidos escorrendo empatia pelas curvas do dorso, e tocando a multidão dos olhos desmedidos. há um breve sentido de estar atento aos movimentos, enquanto estes adormecem quando a luz aborta a noite, mas desconfio que a cabeça esteja em outro lugar procurando o paradeiro de um sentido diverso. neste momento me lançam as vontades de quem me atem, e me ocorre a distancia das que eu construo. deixo de ser o pretexto abduzido e concentro a demasia de descontentamento e satisfação enquanto volto a sustentar as duas hipóteses de mim. o descompasso do corpo não resiste a mente, sem perceber torna a razão pelos ares, já despida de lembrança e acometida pelo instante. assim consumo o presente insaciavelmente etéreo e coincido com a real substancia que não chega antes do tempo.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

inverso do avesso

eu não sou a pessoa que deveria ser. e nem outra, participo de perto sobre minha vida alheia. no que me reflito, ou em quem me projeto. queria mesmo ser alguém com plena convicção de si mesmo, absoluto em ser.

espelho, espelho teu

de longe pareço uma árvore, assim me olho no teu espelho quebrado. recorro à memória de planta, desde a semente que engulo e faz brotar as duras folhas que escondem o meu fruto. sinto uma paisagem artificial invadindo o que penso em dizer ou realizar. pois viro um produto de outro, fragmentado, não condigo à historia de mim escrita, enraizada em que acredito. estarei eu disfarçada? amostras do que queres que eu seja?

entre as horas do moinho

não me contentam as dúvidas. atravesso os dias contando com duas moedas para driblar os atropelos, uma para cara e outra para coroa.

cara: ligo a vitrola e me ponho a escrever sobre coisas que passeiam pela incompreensão, pois acordo o dia com estranhas questões, vindas tão óbvias pela língua invisível do vento. às vezes, não reconheço a outra língua que responde um conhecimento que me é fora de alcance. torno a jogar com a sorte, uma vez que ninguém fala do vento. esconde, afasta e contorna, e torna...

coroa: ela não diz a verdade, é verdade, tampouco acredita que eu acredite nisso, mas finge como finjo que está tudo bem. logo, não restam dúvidas...