quinta-feira, setembro 29, 2005

entreato

levanto os panos
e descubro-me em um papel para esta noite
sem face e figurino
num cenário instrumental
um monólogo sem platéia

instrumental

nada a dizer são também palavras ao frio
tentando aquecer o espírito que tanto pede
abrigo ou pronunciação
não é a espera da réplica
é algum gesto que se assemelhe ao silêncio
desejado não ter-se manifestado

terça-feira, setembro 20, 2005

lamento da confeiteira

é ruim enquanto se acredita na doçura
porque nela também há o amargo
o amargo da sede
do calor
da vontade de tornar-se mais doce
como o vício que perdura
embora inunde agrados
sabe-se que um dia ela finda
e neste dia há de se deixar de acreditar.

terça-feira, agosto 16, 2005

contratempo

textura de alma desafinada
dúbia sonata desconsertada
para dentro palmatória, fora, flora
gritando em disparada o lugar adormecido
e a busca do verso desesperado.

segunda-feira, agosto 15, 2005

o semblante do céu e o precipício de ânimus

pecado.
te soletro na calma com que minh’alma te expulsa,
esta mácula de passagem
pelos polígonos da vertigem-fé.

te abdico com o alento das quimeras
fiando o passo no retorno
ao termo de onde partimos
efeito de que éramos imunes.

mas os versos antagônicos
sempre retalharão
algo de plácido,
razoáveis espécies de analogia,
obstruindo o peito,
que incinerará
a vaidade das noites em sigilo,

porque

de joelhos conjuras o teu íntimo
à pálida fala do teu amor...

quinta-feira, agosto 04, 2005

menos a lua

chove tantas coisas que só servem para guardar
quem nunca ventou assim
o espaço entre as frentes
é colocado de lado na noite vazia
uma vez a mulher me disse
há de esquecer o que for enterrado
eu ouvi
embaixo de si não se julga por inteiro
é quase um objeto quebrado
essa música de todas as vozes
esse poder de estátua
fonte das coloridas águas desnecessárias
dão sorte quando chove outras coisas
e é esparramado o que não é esperado
quem disse sobre o nunca
pode sentar-se e aguardar.

já os cabelos crescem ao contrário
desde que voltamos no tempo.

terça-feira, agosto 02, 2005

quem insiste na hora do dilúvio...

...transparece o cheiro da mortalha

sábado, julho 02, 2005

pedágio para as alturas

as criaturas de olhos vigilantes concordam em viagem, sucumbem à mesma travessia, mas por um momento erram seus degraus e deslizam em qualquer perda que soluce a pele do outro. e também são olhos entreabertos socorrendo o paradeiro do mundo a sós, numa escada corrente que promete chegar aos céus. sem um dia acabar. cansa aos mesmos olhos a demora da sina, da comprovação dela, a escolha do último instante, o derradeiro que anuncia por fim o presente infinito - delicado estado de chamar a pureza.
e não mais se encontram. procuram a volta e bastam de absurdos anseios. as criaturas somente inundam o que pretendem quando depressa se alcançam em permanência.

descuidado

não reconheço a tua intenção neste breve espaço desmesurado,
onde as palavras desconhecem um tempo
quando o inconfessável ignora o silêncio
em torno do gesto que te pede não.

de óculos escuros ou outro biombo fantástico

eu preferia o engano de esquecer todo e qualquer impasse que me traísse o sossego. seja ele evocado ou obrigado, cansado de implorar atenção deste corpo em exclusão do próprio movimento. o meu, a mercê das incertas coerências que se julgam num ímpeto de salvação. um erro. mas nada altera o lápis em sua história, nem a distração da cor conforta um imaginário já delineado em luz e som.

é tarde quando me escondo e noite quando recordo...

domingo, junho 19, 2005

argumento que se posterga

vivo uma certeza rarefeita desmembrando esta noite grave. noite, que baixa, degusta meu sustenido, quase inaudível. nem sustento a razão pelo que é, protagonista tão sem fôlego que sou, impermeada de ar e dia. não rara à minha culpa de indiferença e esquecimento é a incredulidade de que haverá a terra de minha poesia, tardes de vigília ao sol que fala. minha heróica vacilante, queres de ti uma virtude estimada? devo então cobrar-te as agudas funções do teu delírio incessante. e penso eu, à primeira vista é sempre a selva que se desdobra inconsolável, mas deste conteúdo de crepúsculo é feito algo como a água, insípida e brilhosa, dilatando as vias da vertiginosa noite em que vivo a enveredar.

sexta-feira, abril 08, 2005

enarmônicos por assim soar

entre uma quimera e outra nos preenchemos mutuamente
e deste invés de real nos acalentamos por silenciosas induções
cada um com seus assertos eternos e efêmeros
até que se conjuguem outros dias de amar.

sexta-feira, abril 01, 2005

de mosaico em mosaico...

eu já pensava que apenas fosse por acaso que se pescasse distraidamente o trajeto de outro acaso, que, no entanto com a igual e despretensiosa intenção se encontrasse aguardando. e o que me dita diante o inesperado-compartilhado é tão intrínseco quanto alheio. como duas intenções distantes avistassem o semelhante, tal qual, não diverso horizonte no instante exato, e por qualquer outra razão, sofressem do mesmo itinerário dos quais caminhos lhes proporcionassem. fazendo parte de uma misteriosa combinação que não me convém querer analisar, tão possuidora de ambigüidade e nebulosa lógica.
é tolice minha prestar os dias ao destino se o próprio se lança com uma atenção peculiar, visando com os olhos quietos à vontade da sorte. e que se vai se desdobrando em tantos acenos imprevistos. e que em imprecisão toca os rumos sem escreve-los. desde que os vivendo, harmonizando contrates ou desconcentrando eventos compatíveis.
meus sentidos têm de ficar atentos, pois as superfícies oscilam conforme a qualidade do tempo e os canais sinalizam entradas e bandeiras desde o umbral de cada passagem.

quarta-feira, março 30, 2005

durante suspenso

não é mais ser
é tocar a espera, de leve e recuo
inclinando o dia para transbordar a noite
feita quimera de si mesma
para digerir o que demora, prolonga
e tempera o interstício
é povoar o tempo de abstração
à esfera de ser resignada
por inventar o vindouro desejado
que lhe coubera ao instante.

cosmogônica

queria fotografar o infinito
e sequer sabia de sua existência
mas levantava aqueles cabelos para contempla-lo
ali rente à raiz da existência dela
a musa no escuro
perpetuando
ele invisível

segunda-feira, março 28, 2005

imitando qualquer um que eu conheça

a vida o pegou de jeito numa esquina de dúvida, que se passa pelas vias de fato? atinaria à vontade, ou simplesmente a responderia o quê? no entanto, se arrastou com certeza e deve-se à imprudência que a nada alcançou, mas no relógio o tempo já havia voltado, e ele sequer mudou de posição. esperou por disfarçar o óbvio e entrou pela primeira porta que pensou estar aberta. caiu por desilusão. pois bem, ele não foi o único a fugir.

penetrando qualquer lugar que eu vá

ainda que fosse de mentira, havia a esperança de atender o telefone que tocava, longe dali, à cerca da imaginação aguçada, pois era permitida ao estrangeiro a longa reticência de se sentir em casa.

quinta-feira, março 24, 2005

intuyendo te percibo...

desatascando los poros de la intención... existiendo en ambos los lados un sentido es pertinente... pensando tu es que te oigo.

quarta-feira, março 16, 2005

à deriva entre os vãos da pauta de outrora

não tenho palavras, mesmo porque sinto privação das exatas verdades que respiro, e o que venho valer é de demasiada alegria e dor, voa com a leveza de um papel solto em meio ao vento que se sucede, e pesa como a embriaguez que propõe toda aflição de uma noite sem ponteiros...

e não recordo as fontes de percepção para poder fazer deste pensamento um relato que se concilie com a realidade, pois nada retenho de real senso.

quero o que me faça reparar neste incompossível conceito que aflora em algum canto em mim descompassado, mesmo que fosse de desconhecido instrumento para poder absorver o que me é ignorado.

sexta-feira, março 04, 2005

derradeiro expurgar

para acreditar que o sentido das coisas era prático e definido eu precisava contornar os dias à procura do mais viável acontecimento, que faria de mim algo mais absoluto e largasse à sorte a espera dessa essência pouco administrável, que encontrei por um momento a atravessar-me como um vento sem direção.
o que acontecia de fato era o possível alarde que de a segurança dos desejos fosse a mais temível conjectura entre a vida e a morte, e assim, como a pele teme o ferrão da solidão, perdi a vontade da loucura e segui a rua noite adentro para encontrar a esquina em que nos deparamos com a certeza. era clara e convincente. que me agarrou numa suspensa ironia, a de suportar o que me é bem vindo e também desconhecido, a partir de provável acerto, a vida se renovando, a loucura mudando de cor e nome, avistei a breve relação das coisas em mim. pois estive procurando resgatar as noções que aprendi em outrora e que em nada obtive resposta, devido à impaciência da opressora cartada que me trouxera os últimos anos. não havia dúvida de que aquilo fosse a última oportunidade de tranqüilizar os demônios já prescritos em minh’alma e descobertos pela insistência das noites de insônia na encoberta cidade de destruição. um dia deveria partir dali, e assim o fiz, de forma tangente, sem alguém perceber. e logo que prestei atenção estava envolvida numa terra inteira das pessoas que se entretinham, ou que demasiadamente se expunham, mas que de certo ângulo fossem todas uma só, em detrimento de um mesmo sonho, o da liberdade que é o destino dos caracteres na história contínua. um grito de feliz agrado.

quinta-feira, março 03, 2005

possível amor...

um pouco do amanhecer dos dois estava a repara-los depois da noite que os emudeceu. havia entre eles um tempo dispendioso debruçado na distância de um vago intervalo. era simples como queriam, mas o percurso também era um silêncio, longo e tímido, e um deles deveria quebrá-lo, chegando ao outro lado daquele oceano que separava o desejo do ensejo. era simples como sabiam, mas ambos temiam que juntos fossem uma miragem, que seus corpos se esvaíssem desse mundo que não existia, e tornassem mudos à noite que esperavam em vão. o que bastaria para o amor se eles o deixassem intacto? por acaso estavam cansados de escreve-lo sem usufruir dos seus sons, e por fim chamariam-no em outro momento, quando a coragem se vestisse de um nome semelhante e a dúvida anoitecesse entre os dois.

sábado, fevereiro 26, 2005

atemporal

olha as horas. elas vão e não voltam. porque lá ficam, não sei onde, e me levam com elas.

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

fragmentista enquanto inteira

não adianta chamar que não escuto... ando de um lado para outro na pauta de outra música, tocando um significado qualquer que não interfira em chamado algum. repito a nota, o acorde, a corda...

acorda e pensa. qual foi a fonte de toda essa fantasia? resume-se à vida que queres ter? desconheço a fôrma que te esculpiu para longe e a essa conduta de te desprender. todo mundo vê, mas ninguém acredita que do cheiro teu sobrará outra fantasia, a do acaso e repetidamente se faz a tua ausência. pois te atropelam por demasiada falta de interesse e o que te pensam não existir está ocorrendo em rápida resolução. verdades virtuais são de grande valia quando a natureza dilui-se em sonho.

assim existo como duas, uma que recebe da outra que dá. troco diferentes sentimentos comigo, à noite enquanto durmo, de dia quando dispenso a ilusão. há um remanejo de existência em cada instante que torno infindo. volto a pensar na condição da fonte, inspiração do espelho, que a tudo oculta senão deforma. e grito só amanhã!

não quero esquecer. de todo o resto eu peço permissão para ludibriar-me quanto a este choro. penso em cantar sozinha um trecho do meu eco.

é tanta poeira que as frases em lá se tornam indecisas quanto o sorriso em si... os abraços, na realidade, são de mágica convicção e nenhuma decisão precipitada irá se adequar em dó.

existem verdades dissolvidas entre raciocínios dispersos que mal eu as reconheço... insaciável desejo meu de expressar o que não sei...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

imperceptível

meu mundo... tenho a impressão de que me olhas sem prestar atenção, com uma distração de criança, dos movimentos largos e imprevistos, tocando os espaços sem nome, sem chance de conquistá-los em verdade ou de compreender as palavras que se deitam feito os segundos; logo elas passam a não existir novamente, porque não se fixam, como a idéia de mim, em vista dos olhos teus que vão através, se distanciam e não enxergam meu corpo aqui, tão nítido quanto o teu. é como se eu não estivesse e tu despercebido fosses.

ai, mundo meu, reconheças a mim que tão logo já perco o enredo e a concordância!

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

eu desconfio dos cabelos longos

o que está aqui dentro lateja, entorpece. é fuga de feitiço, que deixa o corpo abandonado de sossego. me contem desprevenida de todo acerto, e reflui ao ponto de me inverter. já bastam os cabelos longos e úmidos escorrendo empatia pelas curvas do dorso, e tocando a multidão dos olhos desmedidos. há um breve sentido de estar atento aos movimentos, enquanto estes adormecem quando a luz aborta a noite, mas desconfio que a cabeça esteja em outro lugar procurando o paradeiro de um sentido diverso. neste momento me lançam as vontades de quem me atem, e me ocorre a distancia das que eu construo. deixo de ser o pretexto abduzido e concentro a demasia de descontentamento e satisfação enquanto volto a sustentar as duas hipóteses de mim. o descompasso do corpo não resiste a mente, sem perceber torna a razão pelos ares, já despida de lembrança e acometida pelo instante. assim consumo o presente insaciavelmente etéreo e coincido com a real substancia que não chega antes do tempo.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

inverso do avesso

eu não sou a pessoa que deveria ser. e nem outra, participo de perto sobre minha vida alheia. no que me reflito, ou em quem me projeto. queria mesmo ser alguém com plena convicção de si mesmo, absoluto em ser.

espelho, espelho teu

de longe pareço uma árvore, assim me olho no teu espelho quebrado. recorro à memória de planta, desde a semente que engulo e faz brotar as duras folhas que escondem o meu fruto. sinto uma paisagem artificial invadindo o que penso em dizer ou realizar. pois viro um produto de outro, fragmentado, não condigo à historia de mim escrita, enraizada em que acredito. estarei eu disfarçada? amostras do que queres que eu seja?

entre as horas do moinho

não me contentam as dúvidas. atravesso os dias contando com duas moedas para driblar os atropelos, uma para cara e outra para coroa.

cara: ligo a vitrola e me ponho a escrever sobre coisas que passeiam pela incompreensão, pois acordo o dia com estranhas questões, vindas tão óbvias pela língua invisível do vento. às vezes, não reconheço a outra língua que responde um conhecimento que me é fora de alcance. torno a jogar com a sorte, uma vez que ninguém fala do vento. esconde, afasta e contorna, e torna...

coroa: ela não diz a verdade, é verdade, tampouco acredita que eu acredite nisso, mas finge como finjo que está tudo bem. logo, não restam dúvidas...

sábado, janeiro 29, 2005

orvalho ou vício de sereno

sou convidada desta noite que venta cuidadosamente, balança os pingentes de metal na varanda da linda vista, e traz e leva as nuvens chorosas no seu encalço.
ela veio molhada do dia que se prostrou monótono com o silêncio das águas caindo, passando, umedecendo os caminhos de pedra e encharcando a terra dos anuros. que como cantam nesta noite! e manifestam-se em cada quintal da rua da linda vista. que de vista é linda deveras... a aleatoriedade dos pinguinhos dourados são postes de luz da velha cidade, sobre o preto desta noite inspirando estrelas ao chão. ai...é um universo de pernas para o ar, embora não seja um equívoco estar assim. a noite preserva a frescura do que se pensa ou é sentido. torna-se objeto de contemplação e desliza entre os reflexos da atenção apaixonada ao se imaginar tocando-o, envolvida na melodia quase inaudível de um cão que ladra ao longe a outro solitário de lá, de um carro que sobe manso uma ladeira esquecida, e de um pássaro insone a clamar nossa existência febril. os pingentes e os sapos são os trovadores por excelência do vento e da chuva a me atravessar as horas preenchidas de extensas constatações.
assistir a esta noite conta como um acaso imprescindível que tranqüiliza as vontades dos deuses e resplandece nos corações inquietos.

cautela...

eu, quando escrevo, mudo de idéia facilmente.

ao passo do crepúsculo

vinda a noite propicia a calma das romarias internas. prometo não ejacular mais preces, cansei de esperar a chuva passar e comprei uma sombra de pano. ela molha e goteja em mim o cansaço do mar.
e de vapores eu sinto saudades. e de saudades esqueço a que vim.
no entanto, não preciso emergenciar as minhas desculpas, elas estão em prazo de validade. como o mel que avança em minha direção e nada adoça o dia.
e de dias dispenso a chuva, agora a noite é que me acalenta das romarias internas...

adjunto mais que perfeito jazendo em seu leito, o corpo do beijo

quando se torna azul, o contorno dos lábios tende a mover-se num vento e repouso, em espirais de ais e não se contém a olhos abertos, ou variante pensante. se sobressai à luz da razão tocando uniforme e presente o bojo de carne, onda rastejante entre o mudo e o ofegante. ato tenso e suspenso, arraigado fogo de águas transversas, apanhadas de susto e espera. concerne ao paladar viscoso, a tentação dos dentes rentes à sede lenta que se alenta ao eterno afinco, e de acesso permanente. depois limita-se esgotado, o músculo apaixonado, pela melodia incidental do gozo marginal, desencadeado de órbitas venosas em erupção. e sendo azul, deleita e penteia a ânsia de morrer novamente com essa intenção.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

um chamado, cenas em lápis de corpo

não encontrava meio de dizer sobre o que lhe passava pelas idéias. então acreditou que a melhor forma era desenha-lo num sonho, em cores e som estéreo, para ela participar, ao menos, no que envolvia sua própria consciência. depois reportaria sutilmente a um ouvinte, que fosse um desconhecido pela rua a vacilar... tivera ela abdicado de outros desenhos, e se perguntava qual seria a imagem para melhor se recordar de algo que não havia acontecido. sim, acontecera em outros cenários, embora naquele, em que existia no momento, nunca tivesse se deparado com eles, os personagens que não criara. pelo contrário, eles eram de carne e amor. davam suas mãos e dançavam pelas ruas velhas da cidade. era de alegria que bebiam a vontade do outro de estarem assim, casualmente, amando-se numa realidade ansiada, que de vivida tornara-se nostalgia, e como sonho foi revivida enfim.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

à minha direita está sírius...

tu bem que podias escrever o meu nome na estrela e esperar o que posso responder, se o teu, se tua sou ou se tanto faz. pois se já não existe verso suficiente para conter-nos, miro o céu para entender o que foi feito dos velhos tempos que nos rodeou, e ele, o céu, de tão grande, faz-me crer que o tempo não envelheceu, só se foi. e ainda estamos aqui. tu ao norte e eu ao sul, assistindo ao mesmo céu.

licença compreendida

o que as músicas não fazem aos meus ouvidos para me lembrar que existo?

antes tarde do que antes

é com muito prazer que venho por este resgatar uns dizeres preteridos.
hoje sonhei com uma casa enorme, construída sobre outra pequena, esta minha conhecida já. me encontrei em vista para o mar, mas que mar era este que não existia então? e as pessoas, como felizes eram! não há nada de errado em ser em sonho o que não se percebe em realidade. e isso se faz sem mesmo querer. aquelas pessoas existem, ao menos. e a felicidade se encontra, num devaneio de casa ou de mar, escondida ou correndo para não atrapalhar os de passagem por aí ou acolá, preocupados em não atrapalha-la também.
pronto, eu não podia mais atrasar estas palavras...

segunda-feira, janeiro 17, 2005

barroco até no existir

essa tarde de cravo, de bach, espera que eu me inspire de fato e ainda se deleita com as minhas vontades nubladas. não faz sol, faz de conta que acalenta e sua por todos os poros as palavras que aqui jazem sem fazer algum sentido. isso se refere à ressaca moral, após furtiva experiência de embriaguez na casa de um comunista da vida. que ontem de águas! resumo que tudo isso é fato e me inspiro por nada fazer. tenho alguns sonhos guardados e prontos para desengavetar as idéias ensolaradas. que hoje de nuvens! até parece que estou em casa, cansada, escrevendo para não perder de vista o que não enxergo mais, ou ainda. não, espera, sei onde estão! debaixo do meu nariz, imponente sensação de glórias, sombra dos lábios e parente dos odores, que espera dessa tarde de bach um cheiro de cravo.

não se esqueça de me lembrar

já que tocamos neste assunto, admito que a verdade sela a virada da rotina. acordo, abro a janela, como algumas frutas e então se estabelece a verdade. o que fazer com ela? coloca-la na rua para ver onde vai dar.
amanhã. amanhã vai ser diferente, acredita? só vendo.

para lennon & mccartney

mudo o lado do disco... ai que saudades de minas.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

litorânea

depois daquele chá de arnica, sentou-se à frente da varanda e ficou a olhar o relógio da central do brasil iluminado, arcando com as duas horas da madrugada de 8 de janeiro.
era a primeira noite carioca que dela tomava conta, a envolvia com seus abraços calorosos. uma primeira impressão lhe escorria a face, um cheiro de mar assoprado de novidade nostálgica. esteve a mirar esta condição e achou estar próxima da procurada. foi um alívio imediato, e uma esperança que não tinha limite; assim constou num papel.
nunca havia galopado e na manhã anterior montou no cavalo pela primeira vez.
nunca também usara tantos “v”s num parágrafo como neste.

biombo fantástico

quero pedir a atenção de meus companheiros, para uma memória clamada em nome da ilustre mulher da face dúbia. a que esconde o choro atrás dos batons cor de terra para que os outros a invejem, com sua felicidade simulada em frases de impacto e filosofias meras que só mesmo ela para acreditar. enganava-se muitas vezes para recompor-se diante do nada. escondia de si a trágica e entorpecida verdade de que era ninguém, um silencio de caráter e mais uma alma sem perspectiva no começo de século sem zeros.
era de praxe que se olhasse no espelho e visse uma dama sóbria de longo cabelo negro penteado, ao contrário de entender porque chegava cedo da manhã, com a maquiagem derretida pelo suor da embriaguez. até uma mosca emaranhava-se nos seus fios de cabelo que arrastavam toda a agonia que pendia de sua cabeça, vítima dela mesma.
lutava para não enxergar o óbvio, mentia para os próximos... sim, está tudo bem, hoje eu vou ser feliz... mas dentro de seu coração ferviam a insegurança e o desespero de sempre. de não ser amada, estar só e morrer de sede e fome em algum canto do mundo.