terça-feira, novembro 30, 2004

não há terceira pessoa

enquanto as flores machucavam suas mãos era possível revelar ao outro a sensibilidade que lhe era autêntica. vinham depois inundações de poesia para acompanharem-na e faze-la se identificar com a inundação dos seus próprios furores. a dor ficava mais bela. mas logo ela pareceu impenetrável aos olhos que almejavam a hora da colheita, nem notara os espinhos, mastigou-os com a mesma doçura que os chorava. deixou-se deitar e rolar sobre eles, de forma que eles também a mastigassem, como aqueles olhos sempre fizeram. não era preciso escolher a razão para entregar-se à prazerosa dor, já havia colhido as sensações de outrora e saboreou uma conduta jamais apreciada. tornava ali um pouco do que não cumpria à sua fragilidade, vestia algo que não era a sua pele, era duro e pegava fogo sem se alastrar. então, ela foi desaparecendo, como os olhos já não pudessem mais vê-la.

Nenhum comentário: