domingo, maio 08, 2011

simples

hoje vejo como é simples o que o vizinho escreve, o que lhe corre pelo pensamento senta-se nas palavras. como o gesto de descascar a laranja, de volta em volta, com a faca desnudando a fruta sem precisar retomar o corte. coisa de destreza. coisa bem afiada na mão de que quem acha certo o que faz. é simples também dizer o que se passa pela memória quando se lembra. quando se lembra. às vezes tenho só as palavras chaves do seu discurso, então manipulo o que quero acontecer, falando pelos seus olhos faço dizer o que já foi preterido sem que isso soe meu. o que é seu. é que seria mais simples se eu prestasse atenção. no caminho da volta, depois, que a ida não tem mais particípio e me encontro em meio dessa sua, nossa história toda que ajudei a inventar. na próxima vez que me avise o tempo de parar. quem não estiver distraído. olho para o prato, e a casca inteira me dá vontade de revestir o bagaço da laranja. mas é melhor que não. é melhor mesmo colocar tudo na lixeira porque é simples esconder o que se pensa, mas em algum momento o cheiro da omissão fica evidente, o mofo nos olhos é o sinal de que a validade dos seres é breve. e das coisas que são ainda mais breves. vizinho que retorna à casa percebe se está sozinho, a luz apagada não precisa de explicação. é simples.

Um comentário:

MF disse...

ai ai essa vizinhança..
faz assim: se muda!