quinta-feira, julho 28, 2011

práticas da insônia: entre os gatos

não é porque à noite todos os gatos se misturam – e não se sabe o que distinguir do vermelho e o azul. a mais verdade é que, à noite, não se pode mandar cartas, escrevê-las talvez, e é por essa razão que o correio só permanece aberto durante o dia, para que o autor considere melhor se deve mesmo endereçá-las. e uma vez foi assim, temerária do conteúdo deixei uma sem destino, troquei de envelope e até cuidei em mudar a caligrafia do remetente. claro, o remetente poderia ser qualquer maria que não fosse a minha. só o desejo de ocultar o assunto foi que não me ocorreu. dentro, o meu nome assinado, e ali fora, assassinada a minha autoria. até porque não são os gatos os únicos a ter um nome anonimamente próprio, só eu sei o que não sei de mim. mas vejo que pela manhã, depois de amanhecido um sonho, raramente ele continua o mesmo, e já não são as palavras que o traduz, é outra coisa. coisa para que nem se dá o nome para não se dar o trabalho de permanecer no tempo o que não é do seu feitio. simples. porque não foi possível ser aquela que a escreveu no momento em que cheguei ao correio. tarde demais. como se falasse sozinha, a carta pôde ser lida pelo carteiro curiosamente perdido em meio a envelopes verossímeis. tanto faz. nem só os gatos se misturam.

*cats (musical), TM 1981 RUG Ltd

3 comentários:

Aline Miranda disse...

adoro a madrugada.
escreva semrpe, daya!
e guarde semrpe cartas e palavras, mas deixe-as voarem tb.

Thaiane Miudin disse...

"mas vejo que pela manhã, depois de amanhecido um sonho, raramente ele continua o mesmo,"
Isso é bem verdade. E as melhores idéias são as da madrugada!

Victor Pessôa disse...

Qual seu nome?
quero proferir que meu terceiro nome é...