Quando deixado, o paraíso ruiu. Calor perverso, mas lua espectral. E você nem
reparou nos fios de cabelo que ficaram no caminho branco, livre e inescrito, à
mercê da semântica do vento selvagem. Você olha para mim e diz que não somos nós
os únicos. Uma ironia em primeiro plano e o inferno em segundo. Na mala, um
grilo e uma serpente dialogam em pensamento uma paisagem novamente inútil. O oásis
de outrem. Somos nós o vento, o suspiro
como aquele que nasce dos céus e jaz em mormaço mundano, e agora nos vejo
comuns, desprovidos do hálito edênico. Perigoso é se distrair... Há pouco, fui
atropelada pela lua sofrendo por abstinência do
apocalipse... Porque parte disso ou é ambíguo ou é fantasia nossa! Práticas do
meio dia, do encontro kamikaze das abelhas na minha xícara de café preto, às nascentes
das meias ideias. Sensação em ré, em fé, em eclipse.
Diariamente, sobre nós as horas
dificilmente resplandecidas... Certa euforia em batucar os dedos na mesa, em
beber mais água que o dilúvio ainda não veio. Nossos outubros são também
cinema, e o corte em continuidade, cenário comum da terra descomprometida. Pecado
é mais amar o semelhante. Desprazer em te conhecer.
Quem eu gostaria que fosse, se fosse. Impreciso agora é o espelho para o
roteiro reflexivo, quem deverá ser o mais autêntico de mim? Se este é um
diálogo com deus, que seja um monólogo entre mortais. Sem platéia. Narciso tem Preguiça
da cidade. Vazia porque conhece a ausência. O nosso deserto. Deixei que
os últimos dias se passassem sem nós. Questão, às vezes, de fazer, sem ser por
inteiro. Quando terminada a gênesis, a pena sentiu as chamas já picarem o
coração humano, uma maçã abocanhada. Que por se apegar às coisas tão íntimas...
Menos singelas do que uma felicidade latente, daquela que não se percebe. E
depois, sob a sensibilidade de uma gota d’água, prenuncia a tempestade dos metais. Estéreis e graves. Entre uma imanência
e outra. E metade de mim é desapropriada.
O espaço pode ser medido pelo tempo. Só depende quanto tempo tem. O nada é o de
sempre, serve como lírica.
Percebo que o
feitiço se quebra quando o estilhaço de vidro sai naturalmente da minha pele. Os
defeitos só me poetizam.