terça-feira, novembro 09, 2004

diamante amante do dia

contentava-se em ter vontade de trançar os fios de cabelo numa noite de lua nova, acender uma vela na outra e percorrer os dizeres que fariam alguma justiça para o tal estado de espírito da mulher que crê no sentido da noite corrente. é uma justificativa para o tempo em que se manteve isenta de outras justificativas? vestia um vermelho de cetim quando abriu a janela e dali apreciou as partículas notívagas que saltavam de sua cabeça envoltas às divagações precisas sobre o que é contornar a vida ligada a um epicentro por um umbigo de ilusão. era derradeira a maneira que se prostrava diante de outro ser na véspera de seus dias, nada queria lembrar àquele o quanto precisou do biombo fantástico, superficial e transparente para dançar as lamúrias de outrora. é justo compreender as razões que levaram-na para a dimensão contrária à sua natureza... foi um dia em que se viu com o pincel sem cerdas na mão pintando uma gota ácida na fechadura do seu baú evaporado de sanidade, e conseguiu abri-lo tirando de lá tudo o que já não o continha... então respondeu ela com veemência: não, não existe essa justificativa que pertence a mim, nem outras. penso agora que antes não existiu também, e não há alma que me convença a procurar as telhas quebradas por onde deixei alguns sapatos solitários. prefiro andar descalça, os vidros cortam o que não sentem, como eu.
a janela permaneceu aberta enquanto dormia e às nove em ponto percebera que o sol batia em sua estante de livros.

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