segunda-feira, janeiro 21, 2008

cinemascope brilhante VII

no escuro, ela vislumbra por outros olhos algo que lhe pertence. é tarde quando o tempo canta a sua existência e penetra-lhe numa incessante intenção entre os sentidos, ansioso por desnaturar os tecidos da sua intolerante negligência. o seu corpo pede mais uma vez um pouco de reconhecimento, como se a insônia lhe obscurecesse o ar e arquitetasse um labirinto de tanta reflexão insólita. nenhuma sinuosidade lhe foi útil porque sempre se deparava com a mesma urgência, circundava em torno da monocromática inércia em busca do seu impreciso paradeiro.

no escuro, ela se espera sozinha, tateando o frio comprimento dos seus pêlos em espanto. nada lhe é mais visível do que a sensação que se causa agora, nem há outra graça além dessa nitidez tátil. ela, então, devora aqueles olhos para não esquecer o caminho que fizera até ali e se perde numa paz ensurdecedora.

logo, o cansaço a envolve para temperar a noite cúmplice que se adia, abotoando-lhe as densas pálpebras e conduzindo-a a silhueta de um sonho...

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