domingo, setembro 28, 2008

fala

como pude ter me tornado tão cruel... abomino que assim me sejam, e chamo-lhes de cachorros por língua alheia, dou-lhes à boca o nome. não me recordo, mas eu já deveria ter acertado as contas com deus, ou será ele quem me aguarda com a sentença interminável. pois meus pecados e eu, percorrendo aquela avenida silenciosa, estaríamos de acordo com qual destino de sugestão dantesca? e reparando naquele vazio enquanto caminhávamos, era precisa a derradeira palavra, já antevista, jazida incertamente entre uma submissão e outra omissão, variavelmente carnal. por uma persistência desobedecida, uma catarse incontida, uma cadência de repetir os mesmos maus gestos, também um vício de mau gosto. não meus... é inútil, sempre errante, por toda a eternidade.

o que os olhos ardem, o espírito palpita em horas claras, assim que ofuscam qualquer clareza que lhe seja imprescindível. às vezes, sinto chorar em mim o quebrar do tempo em coisas passadas que não mais se fazem sentido; faz-se, por conseguinte, um derramar de memórias anônimas. esqueço até o que virá acontecer quando assim me reverbero num ponto de fuga caleidoscópico, sem fresta, nem aresta. o pôr da lua, se não chega a ser um parto de dor, quase se perpetua num contrato de cegos, acorrentados uns aos outros, trazendo instantes de não se sabe onde para não se sabe quando. mas isso é inerente a todos que não sabem o que fazer com os ponteiros insones.

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