segunda-feira, agosto 02, 2010

reencontro#macondofeelings

quando mirava o espelho e via outro rosto que não o seu, preocupava-se com o que as pessoas iriam dizer ao vê-la fora daquele quarto. nem mesmo a música do Dylan a faria crer que aquela outra no espelho fosse ela própria, mas de outro ângulo. só se fosse à perspectiva dos ponteiros do relógio que andam ao inverso. quando o tempo passa dificilmente se é a mesma. mas tentou ser a outra. mais uma vez tinha fugido mesmo, que mal havia de fantasiar que hoje era ontem? e não era uma fuga singela, era a fuga da fuga! da cidade para a aldeia, da aldeia para a cidade novamente, mas ali não deveria permanecer, assim que o sol acordasse os outros de lá, teria que ser mais rápida e fugir pela terceira vez! tinha consigo tantas chaves alheias que contavam mais que as suas. nenhuma. ainda bem que não estava nisso sozinha, o seu cúmplice era o desejo de querer ter o desejo de não estar sozinha. e ele estava lá com ela. e era visível também pelo espelho, sobre ela, dentro dela, oscilante e envolvente, como uma onda que arrasta e devolve o corpo para a praia. e se este desejo fosse mais agressivo, imprevisível, ela não teria que pensar sobre, a coisa andaria pelas próprias condições, porque ou se deixaria levar ou acabaria tombando entre as espumas da água do mar em ressaca. não admirava muito, mas concordava, sempre funcionava melhor sob pressão, que fosse sob mil atmosferas, ela não teria que pensar sobre. no dia seguinte, com as frestas de luz, acordou e viu ao lado o desejo ainda relutante, e de tanto fantasiar ser a outra, já a estava sendo. mas se fazendo companhia. na aldeia nada disseram à sua falta, forasteira que era, mas sentiram que ela voltou sem aquela com quem de lá saiu. como se o desejo insistisse ao corpo deixou a próxima fuga para o dia seguinte, porque ela mesma já tinha voltado para a casa na noite anterior.

Um comentário:

Victor Pessôa disse...

apresse-se na calma e logo será como sempre fora: infinito