terça-feira, maio 17, 2011

Práticas da meia noite

Você, eu não sei, mas ela fez abuso do andar da carruagem, zombando da morte e da paciência, talvez tivesse a sorte da lua na casa 8 ou nos caminhos que deslizaram para a meia noite, lugar tão inóspito que a ninguém pertence. Disse que se lembrava dos seus passos na água, foi isso mesmo? Era o que também dava ideia de deslocamento, dos mesmos pés suspensos como se andassem sobre a água, e depois desviando dos paralelepípedos ela se lembraria do incêndio na padaria, quando de longe via um castelo da infância pegando fogo no meio do seu quarto às práticas da meia noite. Você dizia a ela que melhor que Peter Pan, ela viveria para sempre quando lavava os pés no chuveiro gelado da casa que não tinha janelas, mas frestas por onde entrava a curiosidade do vizinho. E nessa noite ela segurava a chuva com o pensamento, encostada à parede com a mesma vontade de soltar-se para longe, para aquela ladeira santa que ficava a quatro anos de distância, e assim lembrava o mundo de vocês num quadro preguiçoso que toda manhã ao acordarem tinham de emoldurar outra vez, nunca pertenciam à mesma noite inteira. Quando sem querer, você esbarrou na lembrança dela, como uma carta do Tarot mística, estrela e maçã. Os olhos risonhos inundaram a rua, e ela nem se dava conta que abrindo o guarda-chuva também guardava tudo para fora do pensamento. O castelo, o chuveiro, a meia noite. Um minuto depois, com a carruagem estacionada em frente à casa, o copo d’água que ela consigo dividia já estava vazio.

3 comentários:

floratomo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mme. Tormenta Furtacor disse...

a lua negra está na casa 8 e qualquer ruído noturno me faz querer varrer o pó das ruínas do passado.... o que fale nesse sonho atemporal é o agora imaginado com gosto do querer meu

MF disse...

o meu que é nosso no plano do sonho pois não se sabe onde começa e termina o sonhador. mas sob a lua na casa 8 guardar as chuvas é bom presságio até para quem não dorme.